Esquadrilha da Fumaça 70 Anos

Jun 20, 2022

Por: Marcos Junglas

Jovem aos 70!

Operando os modernos turboélices A-29 Super Tucano, a Esquadrilha da Fumaça completa 70 anos!

Há 70 anos, na antiga Escola de Aeronáutica, atual Campo dos Afonsos, dois T-6 da FAB chamariam a atenção dos cadetes durante o horário de almoço, não pelo ronco dos seus motores, mas pelo que estavam a fazer: acrobacias aéreas. Essa quebra da rotina operacional fora realizada por alguns instrutores que acreditavam, dessa forma, poderiam aumentar a confiança dos novos cadetes quanto ao voo militar. Hoje, a capacidade operacional da nossa Esquadrilha da Fumaça reflete todo o pioneirismo do passado.

Durante visita de uma comitiva estrangeira a Escola de Aeronáutica, no dia 14 de Maio de 1952, o então grupo de pilotos instrutores, formado pelos Tenentes Aviadores Domenech, Fraga, Collomer, Martins da Rosa e Cezar Rosa, realizariam uma apresentação acrobática com quatro NA T-6 visando demonstrar a capacidade dos pilotos brasileiros. O encanto e admiração causados entre todos que assistiam, fez-se o reconhecimento da capacidade do grupo, levando-o a adotar a data como marco inicial, sendo então considerada como sua primeira apresentação oficial. As apresentações, antes limitadas a área da Escola de Aeronáutica, passaram a ser realizadas nas regiões de Jacarepaguá e Nova Iguaçu. Cada vez mais, pessoas se reuniam e paravam para assistirem as “demonstrações”, as quais, na realidade, tratavam-se de treinamentos. Em 1953, alguns NA T-6 foram selecionados para receber um tanque de óleo no compartimento de bagagem, exclusivo para produzir fumaça, sendo esta produzida no intuito de proporcionar uma melhor visualização das manobras executadas.

Em pouco tempo, as pessoas, na cidade do Rio de Janeiro, passariam a comentar sobre um grupo de aviões que voavam fazendo manobras e soltando fumaça, as quais, juntamente com os jornais denominaram-no de “Esquadrilha da Fumaça”. Com o apoio do então comandante da Divisão de Instrução, Tenente-Coronel Aviador Délio Jardim de Mattos, os treinamentos passaram a ser intensificados e manobras como loopings e tonneuax antes realizados com no máximo duas aeronaves em formação, agora eram realizadas com quatro aeronaves em formação diamante. Em 1954, o agora Capitão Aviador Fraga passaria a comandar a Esquadrilha e, por sua vez, cinco aeronaves NA T-6 seriam destinadas exclusivamente para tal função. Pouco tempo depois, em 1955, estas já ostentariam uma heráldica e pintura própria, idealizadas pelo Capitão Collomer.

A Força Aérea Brasileira passaria a contar com um Esquadrão de Demonstração que mantinha ainda como preceitos incentivar os novos cadetes e, em segundo plano, atrair o interesse de civis a carreira militar. Inúmeras pessoas, empresas e eventos passariam a entrar em contato com a FAB para tentar contratar uma demonstração. Em 1956, com o aumento na demanda de procuras, uma seção seria criada visando atender as possíveis demandas que eram autorizadas pelo Comandante da Aeronáutica. Com o aumento de demandas, veio também o aperfeiçoamento dos pilotos e introdução de mais manobras. Em 1963, criava-se a Unidade Oficial de Demonstrações Acrobáticas da Força Aérea Brasileira, sendo esta a única unidade a realizar apresentações com aeronaves convencionais até 1969.

Em 1968, o Ministério da Aeronáutica tinha grande interesse em possuir uma Esquadrilha de Demonstração com aeronaves modernas para época e, para tal, comprou sete jatos Fouga CM-170 “Magister”. Ainda em 1968, os Fouga Magister, designados na Força Aérea como T-24, entrariam em operação, mas por pouco tempo. Apesar de serem excelentes jatos acrobáticos, no Brasil a operacionalidade do novo jato seria posta em xeque. Em virtude de sua baixa autonomia, elevado consumo e operação apenas em pistas asfaltadas, o Ministério da Aeronáutica se viu obrigado a manter duas esquadrilhas de demonstração ativas: os NA T-6 seriam utilizados nas condições de pistas não preparadas e, os T-24 Fouga Magister seriam utilizados nas demonstrações em aeródromos com pistas pavimentadas. Rapidamente, essa configuração tornava-se inviável e os T-24 seriam desativados em 1972, tendo realizado apenas quarenta e seis apresentações. Mesmo diante de sua curta participação no Esquadrão, a passagem do T-24 ficaria marcada, não apenas pela introdução de um jato, mas pela capacidade de poder soltar fumaça colorida. Após 1.272 demonstrações, em meados de 1976 o Ministério da Aeronáutica desativaria todos os T-6, surgindo um hiato na história da Esquadrilha da Fumaça.

Quatro Anos depois, o Brigadeiro-do-ar Lauro Ney Menezes, Comandante da Academia da Força Aérea, então já localizada em Pirassununga – SP, selecionou um grupo de instrutores e decidiu reativar a Unidade de Demonstração Aérea equipando-a com as aeronaves T-25 Universal, as quais eram amplamente utilizadas pela Academia, na formação dos cadetes aviadores. A nova Esquadrilha da Fumaça receberia o nome de Cometa Branco. No dia 10 de Julho de 1980, durante a entrega de Espadins, a Esquadrilha Cometa Branco realizava sua primeira demonstração oficial. Tendo, ao longo de dois anos, realizado cinquenta e cinco demonstrações.

Em 1982 mediante a criação do Esquadrão de Demonstração Aérea – EDA, a Esquadrilha da Fumaça retornava a ser uma Unidade exclusiva para voos de demonstração. A “nova” unidade recebia seus primeiros T-27 Tucano, aeronave de treinamento avançado, recém incorporada à Força Aérea, que já demonstrava excelentes qualidades de voo, estas ostentando um padrão de pintura nas cores vermelha, branca e preta. No dia 8 de Dezembro de 1983, a primeira demonstração oficial seria realizada durante cerimônia militar na Academia da Força Aérea – AFA. Com uma grande versatilidade e manobrabilidade, os T-27 Tucanos foram responsáveis pelo aumento de manobras ao longo das demonstrações, sendo introduzida uma das manobras mais marcantes até os dias de hoje na Esquadrilha, o Lancevak. A capacidade operacional do Esquadrão de Demonstração Aérea atingiu um patamar de reconhecimento dentre os maiores Esquadrões de Demonstrações Aéreas do mundo e, em 23 de Outubro de 1996 a Esquadrilha da Fumaça realizaria um feito o qual escreveria sua história no Livro dos Recordes (Guinness Book). Naquela data, dez aeronaves T-27Tucano do EDA voariam em formação, todos na posição de dorso, durante 30 segundos, percorrendo uma distância de 3.000 metros. Um novo hiato se abriria na história da Esquadrilha da Fumaça, quando entre os anos de 2000 a 2002, o Esquadrão deixou de realizar demonstrações em virtude de realizar uma extensa e criteriosa revisão em todos os T-27 Tucanos da unidade. Em 2002, o retorno da Esquadrilha da Fumaça traria uma novidade: novas cores agora estampavam as aeronaves. O antes vermelho, branco e preto daria lugar as cores da bandeira brasileira. Já reconhecidos como “Embaixadores do Brasil nos céus”, a adoção das novas cores verde, amarelo, azul e branco resulta no aumento do sentimento patriótico. No dia 18 de maio de 2002, durante as festividades relacionadas ao aniversário da Esquadrilha da Fumaça, onze aeronaves voando a 300 pés de altura em formação e em voo invertido, quebrariam o recorde antes estabelecido pelo próprio esquadrão. Pela segunda vez, o EDA recebia o certificado dado pelo Guinness Book, marca essa que seria batida novamente em 2006, quando doze aeronaves realizaram voo similar.

No ano de 2012, a Esquadrilha da Fumaça completou 60 anos. Com cerca de 100 apresentações anuais e tendo voado os céus de mais de 16 países pelo mundo. O T-27 Tucano, após quase trinta anos e com 2.363 demonstrações realizadas, estava prestes a “aposentar-se”. Em 01 de Outubro de 2012, o EDA recebia seu primeiro A-29 Super Tucano, este ainda ostentando a camuflagem padrão das aeronaves na FAB. Para ser implementado junto à Esquadrilha da Fumaça, os A-29 Super Tucano passaram por uma série de modificações, realizadas pela equipe de manutenção do Parque de Material de Lagoa Santa – PAMA-LS, dentre as quais, a mais visível foi a remoção das metralhadoras .50mm das asas. Os anos de 2013 e 2014 seriam marcados pela implementação da aeronave e desenvolvimento do leque operacional, para tal foram realizadas 765 missões afim de definir o perfil acrobático da aeronave. A nova aeronave a equipar o Esquadrão de Demonstração Aérea traria consigo um diferencial em sua pintura: a bandeira do Brasil antes relacionada apenas as cores, agora ganharia lugar de destaque na empenagem das aeronaves. No dia 11 de Julho de 2015, a Esquadrilha da Fumaça realizava sua primeira apresentação oficial com as aeronaves A-29 Super Tucano, sendo esta realizada durante a Expo Aero Brasil, na cidade de Maringá – PR.

Ao completar 70 anos, a Esquadrilha da Fumaça ressalta sua importância como unidade institucional em cada cidade que passa. Centenas e até mesmo milhares de pessoas param e comtemplam as manobras realizadas durante os 40 minutos de uma demonstração. Para os pilotos, anjos da guarda e toda equipe de apoio que compõe o Esquadrão de Demonstração Aérea, o encanto presente no sorriso e no olhar de cada pessoa é a certeza da missão cumprida. Como uma forma de agradecimento e porque não admiração, o grupo Spotters Brasil parabeniza a todos os fumaceiros, anjos da guarda e demais militares que compõem o quadro do Esquadrão de Demonstração Aérea e traz nesse texto uma forma de demonstrar a gratidão e respeito que temos pelos serviços prestados em prol do nosso Brasil! Fumaça já!

 

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