40 Anos da Primeira Interceptação Real do 1º GDA
Por: André Freitas e Marcos Junglas
9 de abril de 1982. Nas instalações do 1º Grupo de Defesa Aérea um silêncio pairava em virtude do feriado da Semana Santa, com boa parte do efetivo dispensada em razão do feriado. Os militares escalados para o serviço de prontidão permaneciam em casa em meio a um dia nublado em Anápolis. A rotina era quebrada pelas reportagens que noticiavam os primeiros dias da Guerra das Malvinas. Mas a noite reservaria a primeira interceptação real dos jaguares…
Por volta das 20 horas, a sirene de alerta soou e as equipes de prontidão foram acionadas. O cenário antes nublado agora era marcado por fortes chuvas, raios e trovões. Os pilotos de alerta naquela noite eram o Major-Aviador Paulo Cezar Pereira e o Tenente-Aviador Eduardo José Pastorello , Jaguares 81 e 85, líder e ala, respectivamente. Enquanto os pilotos equipavam-se na sala de equipamentos, as equipes de terra preparavam os Mirage F-103E FAB 4916 e FAB 4914 para missão quando um raio atingiu as instalações elétricas da base e toda iluminação dos hangaretes foi apagada. O cenário antes adverso pelas fortes chuvas e ventos, agora tornava-se mais desafiador diante da ausência de luz. De posse de pequenas lanternas, os mecânicos do GDA finalizariam a preparação das aeronaves e, a bordo os pilotos Major-Aviador Paulo Cezar Pereira no FAB 4916 e o Tenente-Aviador Eduardo José Pastorello no FAB 4914 receberam a informação que radares da região Norte haviam detectado uma aeronave não identificada ingressando no espaço aéreo brasileiro, mantendo proa para região Sul do Brasil, e que todas as tentativas de comunicação com a mesma falharam, sendo dado ciência da situação para o Centro de Operações Militares – COpM do CINDACTA I, o qual ficaria responsável pelo gerenciamento da missão.
Acionados no pátio e prontos para partida, o controle informaria aos Jaguares que a aeronave em questão poderia ser um Ilyushin IL-62M pertencente a empresa estatal Cubana una vez que dias antes Cuba havia solicitado o sobrevoo da aeronave contudo, esse fora negado devido as circunstâncias envolvidas. Debaixo de uma tempestade, às 21 horas e 10 minutos o FAB 4916 decolou da Base Aérea de Anápolis. Diante de um problema em seu altímetro, o FAB 4914 permanecia em solo tentando sanar a pane, mas, diante da necessidade da missão e conhecendo as limitações daquela falha, o Tenente José Eduardo Pastorello decolou poucos minutos depois. Sob o callsign Jaguar Negro, as aeronaves passaram a ser coordenadas pelo COpM, que utilizaria o callsign THOR nas comunicações para vetoração até o encontro com a aeronave “intrusa”.
Ao longo do voo, formações de nuvens pesadas e com características de mau tempo trariam uma nova adversidade à missão: o FAB 4916, líder da missão passaria a não ser detectado pelos radares do CINDACTA I, logo sua vetoração não seria mais possível via utilização do sistema de vetoração radar…a interceptação deveria ser realizada de forma autônoma. Como as aeronaves não voavam nesse momento em ala devido a diferença de decolagem, o Major utilizou-se de informações do controle passadas ao Tenente para “guiar-se” de forma autônoma até o momento que teve contato visual com a aeronave, confirmando tratar-se do Ilyushin IL-62M da Cubana, sob matrícula CU-T1225. Pouco tempo depois, o Tenente estaria visual e a partir desse momento os Jaguares passariam a voar em formação. Diante da negativa dos pilotos cubanos em manter comunicação com os órgãos de controle brasileiro e obedecer as ordens para pouso em Brasília, um dos F-103E Mirage foi orientado a ligar suas luzes de navegação e encostar na asa esquerda do Ilyushin, ao tempo que o controle em Brasília solicitou ao piloto cubano que olhasse para sua asa esquerda. O contato visual com o jaguar, fez com que os pilotos cubanos mudassem a postura, solicitando imediatas instruções para pouso em Brasília.
Após alijar combustível foram escoltados até o pouso na Base Aérea de Brasília onde os tripulantes e passageiros tiveram que dar explicações às autoridades brasileiras. Os F-103E Mirage retornaram a Anápolis com a certeza da missão cumprida ao terem executado aquilo para que foram idealizados. Após o pouso, o Major-Aviador Paulo Cezar Pereira e o Tenente-Aviador Eduardo José Pastorello entrariam para história do 1º Grupo de Defesa Aérea como responsáveis pela primeira interceptação real do Esquadrão, que no dia de hoje completa 40 anos!