Um leviatã revisitado – Maior avião de carga do mundo volta ao Brasil
Seis motores D-18T (cada um gerando 52 mil libras de empuxo) suportados pela maior caixa estrutural de asa jamais fabricada, o que dá uma envergadura de impressionantes 89 metros. Peso vazio de 289 toneladas! Máximo peso de decolagem, estonteantes 640 toneladas! Mesmo se esse colosso receber carga completa de combustível (300 toneladas), ainda “sobram cerca de 50 toneladas em cargas passíveis de serem transportadas a quase 15.000 km de distância! Com menos combustível é possível transportar até 260 toneladas a mais de 4.000 km!
Trata-se simplesmente do maior avião já fabricado pelo homem, um projeto de origem militar concebido pelo Bureau ucraniano Antonov para atender um requerimento colocado pela Agência Espacial Soviética visando um transportador para o ônibus Espacial Buran (a ser carregado nas “costas” do monstro voador).
Com a queda da URSS no final dos anos 80 e a derrocada do Programa Espacial soviético, o AN-225 ficou encostado por anos. Acabou retornando com força total ao final dos anos 90, impulsionado por enormes demandas de cargas que mesmo seus “filhos” menores, os AN-124 Ruslan (outro “monstro” da família, quadrimotor), não estavam conseguindo atender, especialmente cargas de grande peso concentrado e volume fora dos padrões normais de carga aérea.
De locomotivas a geradores, passando por milhares de refeições para militares da OTAN/NATO operando no Afeganistão, ou toneladas de brinquedos arrecadados pelo mundo afora para crianças vivendo em zonas de conflito, o AN-225 Mrya vem acumulando um impressionante histórico de realizações e desafios de engenharia no modal de transporte aéreo de cargas, vivas ou não, desde seu primeiro voo em 1988.
Exatamente por esse gigantismo, fica fácil entender por que esse avião causa verdadeira comoção por onde passa. E na sua passagem pelo Brasil em novembro de 2016, não seria diferente. Como também não faltou, mais uma vez, a presença de integrantes do Spotter Brasil para registrar mais esse evento histórico em terras brasileiras.
O AN-225 pousou, como todos já sabem a essa altura, em Campinas e Guarulhos. Isso motivou uma coordenação especial do gerenciamento do espaço aéreo na Terminal São Paulo, pois um avião tão grande provoca uma esteira de turbulência maior e os controladores, em coordenação com os administradores aeroportuários, distanciam ainda mais as aeronaves. Apesar disso, a vinda do Antonov não trouxe qualquer impacto ao tráfego aéreo, e sua operação foi coroada de êxito.
Em Viracopos
Pousando naquele aeroporto no dia 14 de novembro pelo meio da manhã, o AN-225 veio ao Brasil buscar uma carga especial, um gerador de energia que pesa 160 toneladas. Para carregá-lo, uma curta etapa até o aeroporto de Guarulhos, onde equipamentos especiais colocaram o mesmo a bordo do imenso porão de cargas do avião (e pelo nariz, que abre completo para cima a 90º).
Tanto em Viracopos quanto em Guarulhos, o AN-225 mobilizou milhares de curiosos e centenas de spotters de diferentes grupos, vindos de todo o Brasil. Hotel com localização privilegiada tornou-se a meca das fotos durante a chegada noturna a São Paulo. Celulares transmitiram ao vivo para mais de 20 mil pessoas o que acontecia nos dois aeroportos, enquanto o AN-225 lá esteve. Os grupos de spotters mais organizados, contando com o apoio das concessionárias dos dois aeroportos, ocuparam spotting points estratégicos para produzirem seus vídeos, fotos e live streamings. No entorno dos dois aeroportos, os curiosos repetiram o mesmo ritual, pescoços virados para cima, olhares fixos no céu e expressões como “Meus Deus, ele é enorme” ou “&@#$!, olha o tamanho dessa coisa” explodiram nos vídeos e gritos e aplausos dos populares. Um frenesi aeronáutico como pouca vezes se viu no Brasil desde os tempos do Concorde no Galeão.